Ao final da graduação afastei-me da filosofia. Tinha a sensação de que tudo aquilo que tanto me fascinara na academia carecia de praticidade.
O conhecimento especulativo, para mim, era um moto contínuo, um mecanismo complexo, engenhoso, de funcionamento perpétuo que operava no vazio.
Faltava-lhe o contato com o mundo. Estudar e escrever era como elaborar essas ficções estéreis.
Um pouco por isso meti-me como cozinheiro num navio... e, a partir desse desvio, depois de algum tempo, encontrei-me trabalhando numa repartição pública em Região de Fronteira, no Centro-oeste do Brasil.
Fato é que, nesse lugar limítrofe, fiz as pazes com os estudos, com a leitura, com a escrita e também com a filosofia. Trabalhando na Justiça Federal, descobri que uma proposição pode mudar a vida de uma pessoa.
A frase que me atinou para isso foi o despacho de um juiz: "Cumpra-se". Desse "cumpra-se", seguiu-se a movimentação da máquina judiciária: servidores, impressoras, estagiários, oficiais de justiça...a fim de contemplar o pedido judicial de alguém. "Cumpra-se".
Percebi que as palavras não giram necessariamente no vazio, existem máquinas conceituais que alcançam o mundo.