No judiciário lê-se muito, mas lê-se muito a mesma coisa.
As leituras são repetitivas e os textos não têm lá grandes qualidades literárias.
É como ler bula de remédio... há uma estrutura pré-estabelecida: indicações, contraindicações, posologia, efeito colateral, composição... e as palavras se repetem. Os processos são a mesma coisa.
Eventualmente, encontra-se histórias interessantes nesses estreitos limites literários, mas, como disse, são eventos esporádicos.
Trabalhar num cartório, enfim, é como trabalhar numa biblioteca abarrotada de livros ruins e repetidos... é como um sebo de bairro. Do ponto de vista do trabalho de organizar os volumes, a qualidade dos textos não importa. Mas o servidor precisa ler os processos, para lhes dar o correto encaminhamento.
Alguns operadores do Direito são generosos na escrita e redigem de modo claro e lógico; outros, entretanto, parecem caçoar do burocrata.
Jorge Luis Borges, certa vez, disse ter mais orgulho do que havia lido, que daquilo que havia escrito.
Sabe-se que Borges trabalhou numa repartição pública, mas não foi num cartório judicial e sim na Biblioteca Nacional de Buenos Aires.
Todos os servidores passam a vida com papéis, mas alguns vivem mais bem acompanhados que outros.