Outro personagem que conheci na administração pública foi o Sr. Paredes.
O Paredes é dono de um sorriso largo e com muitos dentes. Você jamais ficará em dúvida se o Paredes está ou não sorrindo. É inquestionável, é preto no branco. Ou está, ou não está.
Outra peculiaridade desse distinto senhor é que os seus cabelos grisalhos não se espalharam pela cabeça, mas ficaram concentrados num discreto topete que ele cultiva no topo da testa. É um fenômeno intrigante.
Além disso, Paredes discorda da minha visão de que o judiciário é uma burocracia de massa. Ele acredita que cada processo é uma história única, especial e que deve ser apreciada de maneira personalizada.
Paredes é um sujeito bastante esmerado no trato com os processos. Ao analisar uma petição, nunca sorri (tenho certeza) e fica muito compenetrado em suas considerações.
Certa vez, um estagiário atendeu um telefonema, era para o Paredes. O estagiário chamou, não foi atendido, chamou de novo, silêncio, até que gritou; o Paredes saiu de seu transe e ouviu. "Que desgraça" - exclamou o estagiário - "parece que eu estou falando com as paredes!".
Gostei da ironia. O Paredes tem um nome que lhe cai bem.