A burocracia aprisiona homens e documentos.
Faz de uns carcereiros dos outros.
O burocrata é mantidos dentro de estreitos limites pela massa de documentos que controlam cada uma de suas ações: portarias, memorandos, leis, despachos, minutas, petições, ofícios, sentenças... É uma vigilância silenciosa e ostensiva.
Por outro lado, esses indivíduos, regidos por papéis, são também os guardiões desses documentos, que só andam com o carimbo do serventuário e se espetados pelo bico da pena burocrática.
Enfim, verdade é que nenhum processo sai da repartição, ou por ela circula, sem a ciência de um burocrata.
Eventualmente, permite-se que os autos sejam vistos pelo advogado no balcão do cartório, como numa visita íntima, em que o interessado pode apalpar o papel sob a guarda do burocrata;
Às vezes, é possível a carga do processo por alguns dias, como um salvo conduto, mas, invariavelmente, o documento deverá voltar às prateleiras.
Há um controle rígido para se saber qual processo saiu, quando saiu, com quem saiu e a data de retorno.
Os documentos estão sob a custódia do cárcere.
Mesmo após atingido o objetivo para o qual este ou aquele papel deveria se prestar, eles não podem sair do cartório. Os documentos vagam por muitos anos no "sistema penitenciário" da burocracia.
O burocrata continua preso a eles, por determinação de um outro papel, chamado "tabela de temporalidade", que especifica quantos anos cada documento deve permanecer nos arquivos após o fim de sua utilidade.
E assim, papéis e homens envelhecem agarrados uns aos outros, para que a burocracia siga seu rumo.