21 de fevereiro de 2005

Consideracoes sobre uma morte no Navio

Ontem faleceu um dos homens que trabalham no incinerador do navio. Parada Cardiaca. Trabalhou por onze anos na companhia; morreu nos bracos de um colega panamenho. Assim, sem mais nem menos, sem avisar ninguem, foi-se. Muitos no navio nem ficaram sabendo, pouquissimos o conheciam, alguns jamais saberao da sua existencia e certamente todos irao esquece-lo dentro de algumas semanas, porque no proximo porto ja embarca alguem para o substituir. Eu, por exemplo, nunca troquei mais que duas palavras com o tipo... nao senti absolutamente nada ao ficar sabendo de seu falecimento, foi como uma outra noticia qualquer: "Estao reformando o banheiro no Deck 4"... "Fulano morreu".
Eu so fico imaginando o que foi feito do corpo. Por certo nao foi atirado ao mar uma vez que existem regras rigorosissimas quanto ao despejo de material organico no oceano. Nao o colocaram nas camaras frias porque eu, pessoalmente, fiz uma busca minuciosa... e ali nao esta. Agora, tambem nao iriam manter o corpo apodrecendo a bordo ate chegarmos ao proximo porto... a vigilancia sanitaria iria cair em cima.
Suspeito que o tenham atirado dentro do incinerador. O pobre talvez tenha sido consumido pelo proprio trabalho.