25 de janeiro de 2012

Tempo

   Existem lugares no Brasil onde os processos já são todos digitais. É uma tendência incontornável do judiciário.
   Onde trabalho, o processo eletrônico ainda não é uma realidade.

   Tudo ainda é muito físico e muito pouco virtual. Os processos têm capas, grampos, altura, largura, espessura, peso....
   O trabalho é preponderantemente tátil por aqui. Sente-se o papel ao folheá-lo, carimbamos as folhas, numeramos as páginas, cortamos as pontas dos dedos na lâmina do sulfite. Os processos precisam ser carregados de um lugar para o outro. Eles pesam. Eles ocupam lugares: armários, mesas... eles existem substancialmente.
   Diante disso, há uma certeza de estar trabalhando num lugar obsoleto... a burocracia por aqui ainda não se tornou digital, ela ignora os tablets, não dialoga com a computação em nuvem... ela persiste na celulose e eu a acompanho, fascinado com esse descompasso entre o tempo do mundo e o tempo do judiciário.
   É um pouco como ser um vendedor de enciclopédias numa época de Google.