Carta ao Amigo Milani
Cerca de oito meses atrás chegou a determinação do CNJ de que os processos não deveriam ser presos por bailarinas metálicas, pois estas enferrujam com o tempo e a ferrugem prejudica a conservação dos documentos. Ficou definido que a Justiça passaria a comprar somente grampos trilho plásticos para prender os seus papéis.
Vários setores foram consultados acerca do melhor modelo de presilha plástica a ser adotado. Houve muita reclamação por parte daqueles acostumados a manusear a bailarina, mas houveram elogios por parte daqueles cansados de se cortarem com os itens metálicos.
É impossível agradar a todos. Não há previsão de quando todos os quilômetros de processos do judiciário terão somente grampos trilho plásticos, mas certamente, antes que isso aconteça, os processos já terão se tornado eletrônicos e o nível de oxidação dos materiais não alimentará mais discussões apaixonadas na repartição.
A Justiça vive uma época de despedidas. Tenho um grande amigo, muito apegado às tradições, que deve estar aflito ao ver o modo artesanal de se conduzir um processo, condenado ao rápido e irreversível desaparecimento.
Não te encolerizes diante do sorriso sarcástico do inevitável, meu caro Milani, o melhor que podes fazer é sorrir, gentilmente, de volta.