17 de fevereiro de 2012

Pensamento Politicamente Incorreto

   Assim que entrei no judiciário, trabalhei por oito meses num cartório criminal.
   Há um slogan a favor da ressocialização de presidiários na sociedade que diz: "Dê trabalho ao preso".
   No cartório criminal esse slogan sofre uma leve alteração e fica assim: "O preso dá trabalho".
   Com efeito, o réu preso gera muito mais papel que o réu solto, pois está sob a tutela do Estado e o Estado administra tudo burocraticamente.
   Os servidores do setor criminal, vêem-se sempre às voltas com a imensa quantidade de ofícios, mandados e editais que precisam ser confeccionados a cada ação do preso no interior da máquina. É a famosa fadiga burocrática... uma doença ainda não catalogada pela medicina.
   Pois bem... eis um pensamento politicamente incorreto: Por vezes imaginei como seria um cartório criminal na China... um País extremamente rigoroso e com mais de um bilhão de habitantes. Os servidores devem ser acometidos pelo desespero burocrático... outra patologia psíquica ainda fora do catálogo médico.
   Ouso apostar que nos recantos de cada cartório criminal daquele país, existe um servidor que, nos recantos de sua alma, torce por uma condenação capital que ponha fim à avalanche de papéis que cada preso produz.