1 de fevereiro de 2012

Prazer, Pierre Menard


   O conto "Pierre Menard, autor de Quixote", de Jorge Luis Borges, narra a história de um padre francês que busca reescrever o imortal romance de cavalaria.
   Através de um zeloso esforço intelectual, Menard conclui uma obra que não difere em uma única vírgula do livro escrito por Cervantes: "Dom Quixote de La Mancha".
   Entretanto, especula Borges, trata-se de um livro completamente diferente, em razão do tempo, em razão dos leitores, em razão da história.
   Este mesmo evento desconcertante ocorre diariamente no poder judiciário.
   As sentenças, as decisões e os despachos são infinitamente repetidos nos mais diversos processos. Repetem-se de maneira idêntica, coincidindo até na vírgula.
   A informática contribui para a semelhança com os comandos "Ctrl + c" e "Ctrl+v".
   Todavia, são proposições diferentes, pois mudam os processos, mudam os litigantes e mudam os advogados.
   Pierre Menard não é um conto fantástico... é a antecipação da burocracia contemporânea (que, suponho, possui algo de fantástico).