14 de março de 2012

O Calor Burocrático

   Logo que ingressei no serviço público fui lotado numa das cidades mais quentes do mundo.
   Suponho que aquele município é a fresta por onde vaza o inferno, um respiradouro. Às três da madrugada, os termômetros marcavam 32 º Celsius... é como ter febre de fora para dentro. E assim passavam os dias e as noites.
   Agora, a burocracia não se importa com particularidades climáticas. Os servidores vestiam-se e vestem-se ainda com trajes forenses... camisa social, calça social, sapatos; o horário de funcionamento segue nas horas mais quentes do dia, consumindo quilowatts de ar condicionado.
   Certo dia tiveram que retirar algumas chapas de metal que cobriam as tubulações que passavam pela repartição. Encontraram um rato morto. O curioso é que o roedor não exalava o cheiro da putrefação, ele estava mumificado. O calor intenso havia ressecado seus tecidos. Contemplamos estupefatos o acontecimento... não tanto pela existência de ratos nas tubulações, mas pela mumificação.
   Numa das tardes de 40º na sombra, típicas da cidade, os aparelhos de ar condicionado pararam de funcionar. O cartório tornou-se um forno. "A chapa esquentou". Os servidores suavam em seus trajes forenses.
   Por um instante, lembrei-me do rato mumificado. A burocracia é indiferente ao calor, não os burocratas.