16 de março de 2012

Fé Burocrática

   Todos os dias chegam advogados no balcão do cartório solicitando algum processo.
  Informam o número dos autos e algum servidor busca no sistema a localização: "armário tal, prateleira tal". Vai ao local indicado, pega o processo e o entrega ao advogado. Todos os dias vejo essa peregrinação processual. Trata-se de algo corriqueiro e ordinário.
   Ocorre que essa cotidiana busca por um determinado processo é, em realidade, um ato cego de Fé. Ele pressupõe que o processo efetivamente esteja na secretaria, que algum servidor o recebeu, que lançou a localização no sistema, que colocou o processo no mesmo lugar informado e que o sistema não falhou ao atualizar as informações. É uma cadeia muito longa de causas e efeitos para que suponhamos que ela sempre irá se concretizar e que, sempre, o servidor encontrará o processo solicitado.
   No entanto, nós, servidores do poder judiciário, cremos. Nós precisamos crer.
  Existe algo além da nossa consciência finita que garante a estabilidade da sucessão causal de eventos que nos leva a procurar um determinado processo entre milhares com a certeza de que ele estará naquele local indicado no sistema.
  Essa entidade transcendental chama-se burocracia, ela é una e indivisível... os funcionários são seus adeptos... e mesmo quando essa cadeia falha, há uma certeza de que o erro não foi dela, mas dos humanos que nela habitam.
  Eu creio.