7 de março de 2012

Segurança no Trabalho

   Apesar dos incontáveis pesares, a burocracia é, ao menos, segura. Não digo apenas em relação à estabilidade do serviço público, mas também no que tange à integridade física dos servidores.
   Não há muito risco na atividade burocrática. As ferramentas que usamos, ainda que manuseadas com imperícia, não são capazes de causar ferimentos: clips, grampeador, elástico de borracha, blocos de notas, papéis... a repartição é, em geral, inofensiva.
   Entretanto, a quantidade massiva de demandas, por vezes exige o uso de maquinaria pesada.
  No Setor de Distribuição, por exemplo, há uma máquina perfuradora de grandes pilhas de papéis. A engenhoca consiste em duas furadeiras alinhadas e apontadas perpendicularmente para baixo; coloca-se o volumoso processo onde se quer os furos e ativa-se uma alavanca que abaixa as duas "brocas" que perfuram os papéis. As "brocas", na realidade, são dois tubos de alumínio com as extremidades afiadas.
   Certo dia, a Fazenda Nacional deu entrada em mais de duzentas volumosas petições. Coube a mim perfurá-las.
   Lá pela centésima septuagésima oitava petição, tomado pelo tédio dos movimentos repetidos, deixei que meu dedo indicador ficasse no alinhamento de uma das furadeiras. A broca varou a unha. A sensação de segurança nos torna imprudentes.
   Alguns reclamam que, pela imprudência, a burocracia lhes roubou a vida. De mim, levou apenas o sangue.