1 de novembro de 2013

O Pensar Filosófico do Mato Grosso do Sul

  Do curso de filosofia, cursado na minha juventude, um dos conceitos que mais me marcou foi o da "aporia".
Aporia, em grego, significa sem saída. Não se trata de uma ausência de saídas externas, de caminhos já traçados. É uma ausência de portas internas.
A aporia ocorre quando nos vemos diante de uma questão tal que nenhuma de nossas crenças, nenhum de nossos dogmas, nenhuma de nossas convicções, nenhuma de nossas certezas são suficientes para resolvê-la.
Então, ante uma aporia, devemos abrir mão de nós mesmos, de tudo aquilo que nos forjou, do que há de mais arraigado em nós, de nosso ser, se quisermos nos debruçar sobre o problema.
Sempre gostei e ainda gosto do conceito. Busco-o incessantemente.
No entanto, também sempre tive comigo um certo desapontamento por nunca ter encontrado uma palavra equivalente em português.
As traduções sugerem "paradoxo", "desconcerto"... mas, na minha opinião, não dão conta do recado.
Há três ou quatro anos atrás, quando já havia desistido de achar uma expressão pátria que substituísse o termo grego, fui trabalhar no setor de protocolo e distribuição de uma repartição pública.
Meu chefe era um sul-matogrssense que fazia parte da diretoria de um moto clube, Luiz Henrique. Chegava e saía do trabalho com uma motocicleta "custom" da Suzuki... jaqueta de couro, guidom alto, pneus largos, dois escapamentos cromados.
Um dia, conversando sobre alguma querela jurídica, da qual não me recordo, nos vimos diante de uma aporia.
Ante a questão, o burocrata motociclista soltou uma exclamação tipica da região centro-oeste: "Rapaz, é de cair o cú da bunda".
"É de cair o cú da bunda".
Nunca pensei que encontraria o equivalente do conceito grego numa repartição pública, na boca de um membro de moto-clube.
De fato, descontando-se o caráter quase escatológico da expressão, ela traduz bem a ideia de que mesmo aquilo mais arraigado em nosso ser, nossa certeza mais profunda, sucumbe à aporia.
Se pensarmos bem, de verdade, não existe nada que esteja mais preso ao nosso corpo.
Não era bem o que eu imaginava, mas encontrei o equivalente tupiniquim para a aporia.