7 de março de 2016

Dia Internacional da Mulher

     Ontem, estava lendo o livro “A Confissão da Leoa”, de Mia Couto, escritor moçambicano.

     Num dos capítulos desse romance, uma personagem, chamada Mariamar, é quem fala.

    Agora, por mais que eu apurasse o ouvido e por mais que Mariamar falasse e falasse naquelas linhas de Mia Couto, eu não conseguia ouvir uma voz feminina.

      A todo momento pegava-me confuso: é mesmo uma mulher que está a falar?

    Eu que ouvia mal? Ou será que, no fundo, pela boca de Mariamar era um homem moçambicano quem falava?

     Seja nos meus ouvidos, ou na pena de Mia Couto, a voz feminina de Mariamar desaparecia. Reli o capítulo todo, tentando encontrar Mariamar, tentando ouvi-la, em vão. Era como se a tivéssemos sufocado. Eu e o escritor moçambicano.

     Entristeci-me e, triste, adormeci. Queria ouvir Mariamar.

    Então hoje, no dia internacional da mulher, por certo não me meterei a discorrer sobre mulheres, ou para mulheres, pois pode suceder o mesmo que sucedeu com Mariamar. Pode ser que eu não encontre a voz que deve falar.

     Por isso, fui buscar uma voz que sei feminina, um discurso de uma mulher para outras mulheres. Uma fala de Virgínia Woolf, em 1931, na National Society for Women's Service.

      Com essa voz é que eu gostaria de celebrar o Dia Internacional da Mulher no blog.  

    Transcrevo abaixo parte do ensaio denominado “Professions for Women” (Profissões para Mulheres).

       “Ah! Mas o que significa, para uma mulher, ser “ela mesma”? Quer dizer, o que é uma mulher? Eu lhes asseguro, eu não sei. E eu não acredito que vocês mesmas saibam. Sequer acredito que qualquer um possa alegar saber até que ela, a mulher, tenha se expressado em todas as artes e profissões abertas às habilidades humanas. Essa, de fato, é uma das razões pelas quais eu vim aqui. Pelo respeito que tenho por vocês, mulheres, que estão nesse processo de nos mostrar, por meio de suas experiências e experimentações, o que uma mulher é. Pelo respeito a vocês, mulheres, que estão nesse processo de nos fornecer, por meio de seus sucessos e insucessos, essa informação tão preciosa.

        (...)

      Vocês, mulheres, conquistaram espaços, recintos e cômodos só seus. Aposentos que até então eram possuídos e ocupados exclusivamente por homens. Vocês são capazes, embora não sem seu imenso labor e esforço, de dispor desses espaços. Vocês hoje ganham suas quinhentas libras por ano. Mas essa liberdade é apenas o começo – os cômodos e quartos são só seus, mas eles ainda estão vazios. Esses espaços devem ser mobiliados, devem ser decorados, devem ser compartilhados. Como você irá mobilhá-lo, como irá decorá-lo? Com quem irá dividi-lo e sob quais condições irá compartilhá-lo? Essas, eu acredito, são questões de maior relevo e interesse. Pois, pela primeira vez na história vocês são capazes de perguntá-las; pela primeira vez vocês são capazes de decidir, por si mesmas, quais devem ser as respostas. De bom grado eu ficaria para discutir essas perguntas e as possíveis respostas, mas não esta noite. Meu tempo acabou e eu devo encerrar”.


Virginia Woolf, 1931.