15 de fevereiro de 2012

Morte

   Desde que estou na repartição, soube apenas de duas mortes de servidores. Mortes naturais. Não morreram no trabalho, mas em outros contextos. Não me eram próximos; um deles eu sequer conhecia. Soube apenas que havia falecido através de um e-mail institucional, uma nota de falecimento.
   A repartição pública não é um lugar onde o luto é vivenciado e compartilhado. A tristeza da perda não é expurgada através de cerimoniais. A morte parece exigir dos homens esse luto terapêutico, pois ela pinça nossa espiritualidade e nossa religiosidade. Ocorre que o Estado é laico, e laicas devem ser as instituições que representam o estado.
   Assim, a morte, na repartição, não é tratada de maneira espiritual, mas de maneira burocrática. Uma portaria indica a vacância do cargo, abrem-se os editais de movimentação interna, outra portaria indica o preenchimento do cargo vago e a morte, burocraticamente falando, está superada.
   Eventualmente, ao folhar um processo, nos deparamos com o carimbo ou a assinatura de um falecido. É a relíquia que deixaram do tempo em que viveram na grande máquina. Paramos, pensamos na brevidade da vida e seguimos para a juntada das petições.
   A máquina precisa andar.

P.S.: Suponho que aqueles que vivem apenas uma vida burocrática, verdadeiramente não vivem... e verdadeiramente não morrem.