14 de fevereiro de 2012

O Silêncio dos Inocentes

   Recentemente foi publicada uma portaria paradoxal. A Administração determinou que nenhum problema relativo ao setor de informática deve ser resolvido por telefone.
   A mesma portaria estabeleceu, ainda, que qualquer dificuldade com software ou hardware deve ser encaminhada ao CPD (Centro de Processamento de Dados) através de um sistema informatizado disponível na intranet da repartição. Até aí, nenhum paradoxo.
   Ocorre que os usuários com os maiores índices de solicitações ao setor de informática, são justamente os que apresentam dificuldades em lidar com computadores. Dificuldades de ordem não apenas operacional, mas emocional. As constantes trocas de senhas e os misteriosos conflitos internos do Windows afetam os nervos de alguns colegas.
   Agora, como determinar que um sujeito, aflito com a tecnologia a ponto de xingar um monitor, busque resolver seus problemas justamente na própria tecnologia? É como pedir a alguém com fobia de avião, que pegue um voo de 10 horas para resolver um problema. O problema, simplesmente, não será resolvido.
   O telefone era o último refúgio desses espíritos marginalizados pela modernidade. Era o meio pelo qual se podiam fazer ouvir. Agora, a portaria os silenciou.
   Os problemas não deixarão de existir... apenas não serão mais comunicados.