7 de fevereiro de 2012

Números

   Uma das tarefas mais mecânicas da burocracia é a numeração de páginas.
   Toda vez que um processo entra na máquina, ele precisa ser numerado. Abaixo de cada número é necessário que haja uma rubrica. Se, por tédio ou desconcentração, você erra a sequência numérica, uma certidão tem que ser feita, dizendo que, a partir do número tal, os autos foram renumerados. Essa certidão precisa ser assinada, numerada, rubricada e encartada no processo.
   Os servidores reclamam por inércia, pois não há muito o que fazer, a não ser numerar e rubricar.
   Se vale de consolo, outro dia chegou às minhas mãos um processo do judiciário boliviano. Como no judiciário tupiniquim, as páginas eram numeradas e assinadas, mas, curiosamente, além disso, cada número era escrito por extenso, com letras de forma maiúsculas.
   Foi desconcertante folhear aquele processo. 
   Por que os bolivianos fazem um negócio desses? Será que naquele país existe um analfabetismo numérico? Será que os juízes têm um formalismo ultra rigoroso? Ou trata-se de um grande cabide de empregos: um servidor numera, outro escreve por extenso, outro rubrica?
   Talvez a imagem que melhor descreva a palavra burocracia seja a de um boliviano numerando um processo de páginas infinitas.