8 de fevereiro de 2012

Rabbit Hole

   Logo que tomei posse de meu cargo no serviço público, na fronteira do país, fiz amizade com um servidor da Justiça Estadual chamado Sérgio. Na época, tinha a sensação de que minha vida estava progredindo: estabilidade, emprego... Entretanto, certa vez, filosofando sobre a vida com esse novo colega, ele disse-me algo a respeito do que, até hoje, vez ou outra, paro para refletir. Sérgio ponderou que, apesar das aparências, essa conquista de um emprego na administração pública não significava progressão alguma.
   "Isso, na verdade, é como um buraco de coelho. A gente não tem opção, senão andar para frente: comprar casa, carro, juntar dinheiro... não tem progresso nenhum. Igual ao coelho, nem que você queira, não tem como andar para trás".
   Não tenho certeza se concordo com Sérgio. Acho que sim. Toda vez que lembro dessa conversa me vem à cabeça o coelho de "Alice no País das Maravilhas". Alguém também cai num buraco nessa história. Nem por isso Alice cresce, nem por isso Alice diminui. Como disse, acho que Sérgio estava certo.
   Sigo no meu buraco de coelho, talvez sem progressos, indo para onde vai o buraco, mas certamente fascinado com tudo o que me aparece nesse túnel de terra. "O pássaro é livre na prisão do ar?".