10 de fevereiro de 2012

Oráculo

   Hoje, durante o expediente, uma colega do cartório de execuções fiscais fez-me uma pergunta que me faço sempre. "Henrique, você vê... tem pessoas que passam vinte e cinco anos num cartório. Está certo que as coisas mudam, mas eu não me vejo trabalhando aqui por vinte, trinta anos... você se vê?".
   Existe uma resposta certa para esta pergunta: "Não, não me vejo". Essa resposta negativa indica que você não está resignado à eterna repetição da burocracia, significa que seu espírito não está estagnado e que a chama de sua ambição não se esvaiu. Responder negativamente é dizer para si mesmo que o ritmo constante da máquina não tomou conta de seu coração. Eis a resposta certa.
   Voltei para casa pensando no assunto. 
   Apesar de saber qual a resposta certa, cheguei à seguinte conclusão: "Sim, eu consigo enxergar-me trabalhando e envelhecendo num cartório". Não fui capaz de encontrar dentro de mim uma aversão contundente ao ritmo e às veredas da burocracia. É verdade que tampouco encontro uma ardente paixão pelos papéis, ofícios, carimbos e resoluções... mas não me ofende uma existência burocrática.
   Talvez eu ainda não consiga enxergar o que sejam trinta anos numa repartição pública, talvez eu ainda não consiga avaliar muito bem o que eu sou capaz de suportar. Em todo o caso, por ora, com o pouco que sei de mim, da burocracia e do tempo, permaneço com minha resposta.