9 de fevereiro de 2012

Seção de Material e Patrimônio

   Numa repartição pública as ferramentas de trabalho restringem-se a materiais de escritório. Existe uma engrenagem específica da máquina pública responsável por providenciar os itens que os servidores necessitam. É o almoxarifado.
   Você faz o pedido através de um formulário na internet e o almoxarifado faz a entrega no seu setor. Todo o funcionamento parece muito com o de uma loja de departamento on-line. Parece, mas não é. 
   Há uma característica peculiar na administração pública que torna o pedido dos materiais uma experiência psicologicamente perturbante.
   A  administração pública, em obediência aos princípios da moralidade e da legalidade, não pode referir-se aos objetos por suas marcas. Então, ela precisa estabelecer novos nomes aos utensílios. Por exemplo: um "clips" na máquina burocrática, torna-se um prendedor de arame; um "post-it" passa a ser definido como "bloco de notas auto-adesivo", as famosas "bailarinas" que prendem as folhas do processo, são chamadas de "grampo-trilho plástico para 500 folhas" e um "pendrive", vejam só, é um "dispositivo móvel de armazenamento de dados".
   Ao entrar no sistema do almoxarifado para fazer uma solicitação de material, você tem a sensação de que seu conhecimento prévio do mundo não se aplica à burocracia; em especial porque os itens são dispostos em ordem alfabética... o clips está na letra "P", prendedor de arame; o post-it, na letra "B", bloco de notas... e assim por diante. A burocracia torna o mundo mais incerto.

   P.S.: No setor de almoxarifado existe um servidor responsável por essa Torre de Babel, o administrador dessa máquina burocrática de distorcer conceitos. Seu nome é Paulo.