30 de março de 2012

Anedota de Interior

   Já mencionei aqui que, em meu ingresso no serviço público, fui lotado num dos municípios mais quentes do planeta, numa região de fronteira, por onde circulavam mais entorpecentes que informação. O povo dali, em geral, era rústico e queimado de sol.
   Logo que cheguei, fiquei sabendo que por ali passara uma juíza de São Paulo. Como todos os outros juízes e servidores que para lá são mandados, logo que pôde, solicitou sua remoção.
   Contaram-me que, certa vez, apareceu para umas das audiências de testemunhas, uma rapariga típica da região. Tostada de sol, pouco instruída e, em razão do calor, com uma blusinha de alças, sem manga. Viera no transporte público municipal, verdadeiras estufas de aço sobre rodas.
   Segundo consta, a juíza não aprovou as vestes da mulher, achando-as inapropriadas para um fórum judiciário. Entretanto, nada disse, apenas solicitou a um dos servidores que ajustasse a temperatura do ar condicionado para 16 graus e deu início à audiência.
   Ao longo da oitiva da testemunha, confortável em sua longa toga negra, a juíza pôde observar a jovem tremer de frio... como tremem todos os mortais diante do peso e da respeitabilidade de uma autoridade.