28 de março de 2012

Contos

  Em geral, os textos da burocracia são bastante formatados. As frases e as expressões são exaustivamente repetidas, ao ponto de se tornarem carimbos. Não há nada de novo nos textos. A forma se repete tanto, que o conteúdo acaba ficando repetitivo... e vice versa.
   Hoje, por generosidade do destino, caiu-me nas mãos uma certidão de um Oficial de Justiça. Uma certidão de mais ou menos uma página, que narrava como havia sido o encontro desse servidor público com a pessoa a quem ele deveria entregar um Mandado judicial.
   A certidão descrevia o horário em que o Oficial chegara à casa da testemunha a ser intimada, descrevia a empregada que o recebeu e, entre aspas, mencionava as palavras que lhe foram dirigidas. Também entre aspas, o oficial escreveu as suas próprias palavras, proferidas na ocasião do diálogo. Do que, para constar, lavrou a referida certidão.
   Agradou-me ver um texto tão diferente no mar de repetições burocráticas que preenchem o dia de um funcionário de secretaria. Foi como ter parado um instante para ler um conto. Bati o carimbo no papel, numerei a página e juntei-a aos autos. O resto do dia foi bastante igual aos demais.