25 de abril de 2012

As Mil e Uma Noites

   Jorge Luis Borges dizia que, em algum momento de nossas vidas - se estivermos prestando atenção -, nós nos deparamos com um escritor que nos abre as portas da literatura universal: suas grandes obras e seus respectivos autores. Através desse autor que nos cativa, acabamos por conhecer os escritores que influenciaram sua escrita, as obras que o formaram e, assim, por curiosidade, entramos num caminho sem volta; pois cada autor, em cada um de seus livros, poemas ou escritos, carrega consigo outras obras de outros escritores... de outros países, de outras línguas e de outras épocas.
   O autor que fez com que me interessasse por este mundo de palavras foi o próprio Jorge Luis Borges. A obra, um poema chamado "El Sueño de Pedro Henriquez Ureña", que faz parte do livro "El Oro de Los Tigres". Li-o por indicação de um amigo. "Leia Borges". Encontrei o volume nas prateleiras de uma Universidade pública. 
   Finda a leitura, quis saber quem era Pedro Henriquez Ureña; descobri tratar-se de um escritor; encontrei uma autobiografia intelectual publicada numa revista literária do Uruguai. Na autobiografia, Ureña mencionava outros autores... sigo neste novelo, de maneira intermitente, até hoje.
   Agora, uma das obras a que Borges mais faz menção além da Bíblia, são as "Mil e Uma Noites". Talvez jamais as tivesse lido, não fosse a paixão do escritor argentino por essa obra.
   Por causa de Borges comprei a tradução feita do árabe por Mamede Mustafa Jarouche, que traduziu os textos do ramo sírio para o português. As histórias são de natureza fantástica, como não poderiam deixar ser as histórias que conquistaram Borges, que tanto buscou o fantástico em sua literatura.
   Apaixonei-me pelas aventuras e desventuras narradas pela protagonista das "Mil e Uma Noites", a princesa Sahrazad. As arábias passaram as ser parte do meu imaginário... ainda que tão distantes no tempo e no espaço.
   Acontece que hoje, por uma estranha generosidade do destino, caiu-me nas mãos um processo de naturalização de estrangeiro. A pessoa que está requerendo a nacionalidade brasileira, de acordo com o processo, é oriunda da Síria. Justamente o berço das "Mil e Uma Noites".
   Não pude deixar de abrir um largo sorriso ao folhear os autos e descobrir que, além da naturalidade Síria, a requerente tem o nome de "Sahrazad"! O que antes era tão distante, hoje pareceu-me estranhamente próximo e familiar. Uma personagem da literatura universal solicitando ao poder judiciário sua naturalização.
   Aos que não chegaram até o final do livro, eis como terminam "As Mil e Uma Noites": numa repartição pública brasileira, com Sahrazad requerendo a cidadania tupiniquim.
    Borges jamais imaginaria que um clássico da literatura pudesse acabar assim.