3 de abril de 2012

Fran's Café

   Existe, na repartição onde trabalho, uma estagiária chamada Fran. Vejo-a muito esporadicamente, pois nossos horários de secretaria não combinam. Logo que chego, Fran está saindo.
   Entretanto, do pouco que conheci dessa menina, ficou-me a impressão de que ela é bastante intensa em suas impressões.
   A título de exemplo, Fran nunca diz que gosta de alguma coisa, ela "Aaaa-dooo-raaa!". Caso contrário, ela sequer menciona. Ainda na mesma linha, percebi que essa acadêmica de Direito não usa as interjeições de espanto corriqueiras, que costumamos empregar em nossas conversas cotidianas, tais como "nossa!", ou "poxa!". 
  Se Fran, num diálogo qualquer, deseja demonstrar surpresa, solta um longo "aaaaahhhhhhnnnnn!", aspirado e agudo, que, ao escutarmos, temos a impressão de que o oxigênio irá lhe faltar a qualquer instante.
   Num desses dias, no meio de uma conversa com uma servidora, Fran soltou uma de suas interjeições, como sempre, acompanhada de uma inquestionável expressão facial de assombro. Mesmo alheio à conversa, assustei-me, e também, por ato reflexo, acharia surpreendente o que quer que tenha chocado aquela estagiária - tamanho o poder de convencimento da interjeição.
   Agora, pelo pouco que a conheço, não sei se Fran exagera em suas manifestações ou se ela realmente se impressiona tanto com as coisas. Fato é que esse seu jeito peculiar contrasta muito com as reações contidas e austeras dos ambientes burocráticos.
   Assim, apesar de tudo, as interjeições de Fran dão um ar de normalidade mental à sóbria atmosfera cartorária.