10 de abril de 2012

O Futuro, a Deus Pertence.

   Onde você estará daqui dez, vinte anos?
  Em geral, esta é uma pergunta razoavelmente difícil de responder porque há uma amplitude muito grande de incertezas que condicionam a resposta. Mundo globalizado, revolução digital, crescimento econômico, expansão de oportunidades, mercado de trabalho, etc. Além disso, existe um elemento altamente instável a ser levado em consideração: o termo "você".
   No âmbito da iniciativa privada, a capacidade de formular uma boa resposta a essa pergunta, expõe os traços característicos da personalidade empreendedora do entrevistado.
  Agora, qual o significado dessa mesma pergunta no serviço público, por exemplo, na burocracia do poder judiciário?
  Basta entrar numa repartição pública para sentir na sua atmosfera, que a pergunta acima perde por completo o seu caráter oracular. Os mistérios inerentes à existência se esvaem entre as prateleiras do cartório.
  E, por certo, isso não ocorre porque a burocracia tenha as respostas às grandes interrogações da vida, mas porque ela cria, em seu seio, um novo conceito de vida. Um conceito muito menos rico, mas significativamente mais estável.
  A vida burocrática, não é afetada por grandes oscilações ou incertezas. Ao contrário, sua principal característica é a sólida e pesada constância. Se você quiser ter uma idéia de como estará daqui há uma década ou duas na burocracia, basta olhar para a mesa ao lado e você terá, na figura do servidor mais antigo, a resposta com uma margem muito reduzida de erro.
  A volatilidade do termo "você", na burocracia, é controlada pela padronização das funções burocráticas.
   Assim, o problema na repartição não é responder à pergunta sobre o futuro. O futuro, de antemão, já está dado. O que constrange o servidor público é saber como escapar à certeza do inevitável, quando o inevitável não lhe apetece.