12 de novembro de 2013

Biometria

  No caminho para o trabalho, nós, burocratas, ocupamos nossas mentes com as mais variadas questões. Divagamos em nossos mundos individuais, que não necessariamente gravitam em torno da burocracia.
  Até que chegamos ao início de nossos expedientes.
  A marcação de ponto na repartição onde trabalho é feita de maneira eletrônica. Leitura biométrica da impressão digital.
  Coloca-se o dedo num leitor óptico e o sistema identifica o nome do servidor, o número da matrícula e o horário de entrada.
  Ocorre que, muitas vezes, o leitor não reconhece nossas digitais... que são únicas e  nos identificam. É como se nós, naquele instante, não fôssemos nós mesmos, ou não estivéssemos seguros de quem somos.
  Erro mecânico? Não creio.
  Suspeito que aquela máquina não faz uma mera identificação biométrica, mas uma identificação espiritual.
  Se, no instante em que tocamos aquela tela com nossas digitais, ainda trazemos em nossos espíritos nossas questões individuais, o leitor não nos reconhece como burocratas. É como se fosse um guardião que apenas deixa passar os dignos da repartição e alerta aos incautos que devem despertar o burocrata escondido entre as questões cotidianas de cada um.
  É preciso que nosso espírito esteja voltado para a repartição, ou o leitor não nos reconhece como um servidor, de matrícula número "x".
  Ultimamente, só tenho sido liberado na terceira tentativa... o burocrata demora a surgir no indivíduo.