14 de novembro de 2013

Um dia que durou cinco anos

  No cotidiano burocrático o tempo não corre de maneira tão vertiginosa quanto no mundo real.
 Graças à estabilidade do funcionalismo público, as pessoas não são substituíveis. Disso decorre, obviamente, que elas não são substituídas. Os servidores permanecem. Isso, por si só, já desacelera bastante o tempo... Não se vê sempre levas de pessoas novas, e as que nos cercam demoram a sair. A aposentadoria, dos outros, é uma âncora de meu próprio tempo.
  O serviço é feito sempre com as mesmas ferramentas... o sistema processual utilizado, por exemplo, é o mesmo há muitos anos.... sem interface visual... ainda tipo DOS... Não nos sentimos obsoletos ante o maquinário que nos cerca.
  Gradualmente, embora ainda haja muito papel, as folhas estão sendo substituídas por arquivos que não amarelam nas prateleiras. Aos poucos, perdemos a noção do tempo que se marcava na celulose. E embora um ou outro auto se desfaça com o manuseio, há um servidor que se encarrega de nunca deixá-los com cara de velhos.
  É um tempo de transição... mas uma transição tão lenta que, nela, não percebemos a mudança de uma era.
 Os procedimentos, por sua vez, não se sucedem como as urgências do mundo real. Têm um passo marcado pela cadência do direito processual.
  Ontem foi meu aniversário. Há cinco anos comemoro-o tendo como profissão a burocracia e tendo como principais referências cronológicas, os marcadores da repartição.  O tempo não voou. Não parece que foi ontem... parece que nada mudou. Parece que o primeiro dia em que entrei no cartório estendeu-se por um quinquênio, até o dia de hoje.
  Talvez tenha sido o dia mais longo de minha vida.