11 de novembro de 2013

Rua Primeiro de Março, 66

  Quando morei em Niterói, gostava de ir ao Centro Cultural Banco do Brasil, do outro lado da Baía de Guanabara.
  Via e revia a exposição que estivesse montada naquele lugar.
  Com o tempo, depois de muito observar aquelas obras, a questão deixava de ser o que uma determinada foto expressava, o que certo quadro transmitia...
  Se a mostra ficasse tempo suficiente, a partir da terceira visita à Rua Primeiro de Março,  passava a me perguntar por que o artista decidira dedicar sua vida a pintar aquele tipo de quadro, escolher aqueles enquadramentos. Intrigava-me saber o que o artista teria feito da vida se não tivesse se dedicado a fazer aquelas escolhas de cores, formas, tamanhos, etc... e se faria outra coisa, se pudesse.
  A arte, para mim, aos poucos, deixava de ser a obra e passava a ser as escolhas de vida do artista.
  Hoje, na repartição, vejo-me diante de estranhas obras burocráticas, de curiosas escolhas de vida de servidores públicos. Observo, com atenção, as instituições do Direito e me pergunto o que nos leva a fazer tais escolhas, a nos atermos a elas. E me pergunto se faria outra coisa, se pudesse.
  Suspeito que sejamos os artistas de nossas próprias existências, esculpindo escolhas, escolhendo caminhos, pintando desejos...
  Sigo intrigado com a estética da repartição e da vida. Se chegar a alguma conclusão, postarei-a aqui.

  P.S.: A fotografia abaixo é a escolha de um artista que conheço, Guilherme Ghizoni.