19 de novembro de 2013

Erfahrung

Para os estagiários de agora (Juliana, Maristella, Guilherme e Luana)

  Já escrevi isto antes, em alguma postagem perdida: os estagiários são peças indispensáveis ao grande maquinário que é o poder judiciário. Sem eles, a coisa toda emperra.
  São indispensáveis, sim, mas substituíveis. E são substituídos com frequência, de acordo com a necessidade.
  A vida útil de um estagiário numa repartição, por lei, é de dois anos. É um tempo irrisório se comparado à Eternidade em que se desenrola a burocracia. São, sem ofensas, descartáveis.
  Estagiários vêm e vão como as cordas de um instrumento que toca incessantemente e cuja estrutura oca de madeira, trocadas as cordas, continua reproduzindo, sempre, as mesmas notas... alheio às peças que se foram. 
  Mas tudo isso já foi dito alhures.
  Agora, esses jovens deixam na repartição um tempo de suas existências, que é o preço de tudo nessa vida. E o que levam consigo da enorme estrutura que é o judiciário? O que trocam pelo tempo de vida que deixam naqueles processos?
  Há tempos venho pensando em algo para dizer a essas peças que são descartadas com tanta rapidez pela burocracia. Há tempos me exaspero ao me dar conta do tão pouco que poderia dizer-lhes... exaspero-me ao não encontrar uma forma de dizer-lhes sequer esse pouco que poderia dizer... justo a eles que, em breve, irão se soltar dessas engrenagens que impulsionam as infinitas demandas judiciais.

  Hoje, todavia, encontrei em palavras alheias, minhas próprias palavras. É um poema de Rose Ausländer, traduzido por Antônio Cícero.
  Não são versos meus... sequer foram pensados, originalmente, em português. Todavia, refletem aquele mínimo irrisório que, de mim, gostaria que os estagiários não partissem sem ouvir. E isso é tudo.


Experiência

Colher experiência
em florestas montanhas
cidades

Nos olhos
das pessoas

Em conversas
no silêncio



Erfahrung

Erfahrung sammeln
in Wäldern Bergen
Städten

In den Augen
der Menschen

In Gesprächen
im Schweigen