31 de janeiro de 2014

Um Sonho Burocrático

   Outro dia tive uma espécie de sonho. Digo espécie porque, via de regra, sonhamos quando dormimos e eu estava acordado. Estava saindo do carro, no estacionamento da repartição onde trabalho. Ia bater o ponto para mais uma jornada.
  Antes de fechar a porta do automóvel me vi velho, bastante velho, já aposentado do serviço burocrático e um menino japonês vinha me perguntar o que eu fazia na época em que trabalhava.
   Da maneira mais clara que pude, expliquei que todos os dias as pessoas escreviam seus pedidos em páginas e mais páginas de papel para um juiz que decidia qual pedido ia ser atendido e qual seria negado, e que o meu serviço era, todo dia, colocar os papéis em ordem, numerá-los, prendê-los numa capa e escrever, em outro pedaço de papel, o que o juiz tinha decidido... e grudar esse outro pedaço de papel depois dos outros, dentro da capa de papelão. Disse ao menino, ainda, que, em outros papéis, eu escrevia cartas para dizer às pessoas se os pedidos delas tinham sido aceitos ou não.
   O menino me olhou, com um tablet na mão, e perguntou: "Com tanto lugar para escrever as coisas, porque as pessoas escreviam tudo em papel?".
   Diante dessa pergunta, acordei, tranquei o carro e fui trabalhar.
   Tenho a impressão de que o que faço, não faz mais sentido. Realizo coisas de um tempo que já se esgotou.
   Pergunto-me apenas se aquele menino, com perguntas óbvias, sou eu.